Uma mãe também chora

Já fez uma semana desde que o Francisco anda mais roedor, mais queixoso, rabugento e a dormir mal.
Houve uma fase que ele já andava a roer muito as mãos e a chucha e eu pensei que fosse chegar os dentes, mas só tinha cerca de 3 meses e na minha cabeça ainda era muito cedo.
Pesquisei, perguntei e encontrei alguns casos de bebés que aos 3/4 meses começaram a agir assim também. 
Entretanto as coisas acalmaram, até à 3 noites atrás. O Francisco começou a dormir mal de noite, acordava muitas vezes e estava muito chorão. Como nós temos estado fora de casa, porque tivemos 4 dias na Nazaré e agora 6 em Albufeira, nas primeiras noites achamos que ele estava a estranhar a casa e que sentia saudades do nosso ninho e do seu quartinho... Até ontem.

Chegamos ontem do Algarve (eramos para ter vindo hoje, mas estava tanto vento e ele também não estava a 100% que decidimos vir embora), e fomos jantar a casa da minha mãe em jeito de surpresa.
O Francisco faz sempre uma festa enorme quando vê os avós e os tios, mas ontem só dava um sorriso de vez em quando, e continuava muito queixoso.

Bebeu o leite, mudou a fralda e supostamente devia de adormecer.
Mas não adormeceu... Começou a chorar.
Embalei-o no meu colo, bem juntinho ao meu peito como faço sempre para o adormecer, mas o choro persistia, não conseguia acalmá-lo por nada!
O choro descontrolou-se.
Foi o pânico. Vimos o Francisco como nunca tínhamos visto.
Chorava tanto que percebemos que o choro não era uma birra para dormir, mas sim um choro de sofrimento e dor, ao qual nada conseguíamos fazer para que parasse. Estivemos assim cerca de 20 minutos, enquanto todos tentavam jantar mas ninguém conseguia por estarem tão aflitos como eu e ele. 

Quando algo não está bem na minha vida, se tenho alguma dor, ou se preciso de uma resposta para algo que no momento não encontro, vou buscar forças sempre ao meu pai. O meu pai faleceu quando tinha 7 anos e desde então, em muitas situações, é ele que me ajuda. Tal como eu, os meus irmãos e a minha mãe recorrem ao pai porque sempre sentimos que ele continuava presente nas nossas vidas, nos bons e nos maus momentos.
Há coisas que não se explicam, o facto de falarmos muito com o pai e sermos ouvidos é uma delas. 

Ontem ao ver o Francisco naquela aflição sem forma aparente de parar com aquele choro compulsivo, agarrei-me a ele com muita força a dar-lhe muitos beijinhos e a pedir ao meu pai que ajudasse o Francisco a parar com aquela dor, pedi ao  meu pai que mais uma vez me ajudasse enquanto mãe a superar este momento. 

Instantes depois, o Francisco acalmou...

Deitei-o em cima da cama da minha mãe, enquanto todos foram acabar de jantar, à exceção da minha mãe e da minha cunhada Mónica, e comecei eu a chorar. A chorar porque ele estava assim e a chorar porque mais uma vez o meu pai ouviu-me e ajudou o Francisco. Estávamos ali as três de volta dele a tentar que ele sorrisse e nada... Só estava quieto, sério a olhar para nós.
Entretanto o meu irmão João, mais velho dos 4 irmãos, aproximou-se do Francisco e disse "então? estás melhor bebé?" e o Francisco sorriu. Para quem não conhece o meu irmão João, ele é fotocópia do nosso pai. Ás vezes faz confusão por ser tão igual. O Francisco nunca viu uma foto do nosso pai. Mas naquele momento, a única pessoa para quem ele sorriu foi para o meu irmão João. Dá que pensar...
Depois de alguns minutos, já sorriu para todos.

Medimos a febre, estava com 37,8º C significava que estava a aproximar-se do limite da temperatura para irmos ao hospital. Colocamos um supositório e o Francisco continuou sempre calmo.
Voltamos para a mesa para terminar de jantar e pouco tempo depois começa o choro compulsivo. Voltei a pedir auxílio ao meu pai, e mais uma vez ele ouviu-me. Assim que se acalmou, viemos embora para nossa casa. No caminho fui no banco de trás com ele, coisa que já não acontece há cerca de 1 mês, e adormeceu agarrado à minha mão. 

Passou bem a noite, só acordou 3 vezes porque perdia a chucha ou estava destapado e tinha frio. 
Acordou como acorda sempre, a rir e a ser o bebé simpático e fácil do costume.

Por enquanto está tudo bem, não voltou a fazer febre. Vou continuar atenta e sob alerta para a possibilidade de vir alguma coisa ruim associada aos dentes.

Sim, é dentes de certeza. Está neste momento no seu baloiço a ver os desenhos animados agarrado aos seus brinquedos roedores. 

Ontem, pela primeira vez senti o que era a aflição de uma mãe pelo filho.
Foi péssimo. Espero que esta fase seja tão fácil como as cólicas. Não quero chorar com ele sempre que ele está mal. 
Ser mãe também é isto... Sentir as dores do filho. 

Por esta altura o meu pai teria 51 anos, nasceu em 1967, e não imagino felicidade maior que ver o neto a crescer. Mas eu sei que esteja onde estiver o meu ai está a olhar por ele, por todos os netos que hão-de vir e por toda a nossa família. 
Uma vez que o meu pai não está, digo ao Francisco que o meu padrasto é o avô Rui. Os pais do Rui não são nossos avós de sangue, mas desde que a minha mãe se juntou a ele, nós chamamos de avós a estas duas figuras que sempre nos apoiaram e nos trataram como netos, dando muito amor e carinho. São pessoas muitas especiais para nós. Um dia falo-vos sobre eles 💖

1001 beijinhos 💋

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Comentários

  1. Revi a tua história na minha… Também eu e o meu irmão perdemos o nosso pai muito cedo, ele 11 e eu 6! E felizmente também tivemos a sorte de encontrar outra família…
    Mas fica sempre aquele vazio e também eu nos meus piores momentos peço-Lhe ajuda… Acaba por ser a forma mais fácil de ultrapassar!

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    1. Sem dúvida que é a maneira mais fácil. E também aquela que nos dá mais força para enfrentar novos desafios. Vão ficar sempre nas nossas memórias.

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